DE TRIANA A BARRANCOS, PASSANDO PELA FICÇÃO HISTÓRICA

Reportemo-nos a uma  época marcada pelo preconceito e pela intolerância na Espanha da primeira metade do Século XVIII, mais concretamente ao cenário demarcado por Sevilha/Triana com o contrabando de tabaco entre Espanha e Portugal, e com o pano de fundo da perseguição aos ciganos da província e de toda a Espanha.


             

A novela de ficção histórica/romance/novela "LA REINA DESCALZA", de Ildefonso Falcones, com actores perfeitamente enquadrados em paisagens distintas que vão desde Habana/Cuba "al puerto de Cádiz" transportando a morena escrava liberta  de seu nome Caridad ( a protagonista) a bordo do navio da armada espanhola "La Reina", à cosmopolita Sevilha e particularmente ao fervilhante bairro de Triana com todo o colorido das suas gentes, negócios e músicas, com preponderância para as diversas famílias ciganas (os Vega, os Carmona, os Garcias, os Vargas...),  o seu relacionamento e amizade com a jovem rebelde e lutadora cigana Milagros Carmona, o curtido e valente Melchor Vega (el Galeote), o patriarca da família Vega, firme defensor da honra e da lealdade do seu povo, afinal a obra mostra-nos histórias e vidas paralelas numa sociedade em plena convulsão social, e numa época marcada  pela intolerância do poder, das instituições monárquicas e religiosas face à raça cigana,, caso da Pragmática de 1745, e da Real Ordem de Fernando VI.


É neste quadro que o autor nos apresenta os diversos actores desta novela, as suas vivências, os seus dramas, a importância do contrabando na economia paralela e em que o povo cigano era exímio.

Estabeleceu também as conexões geográficas e os itinerários que ligaram Triana a Barrancos, ponto nevrálgico e entreposto do contrabando do tabaco que vinha de terras americanas.

Do contrabando...referia-se a "los habanos, de la incursión que acababan de hacer al lugar de Barrancos, ya cruzada la raya con portugal". (1)

Barrancos surge na novela como peça importante de todo o enredo, ponto de partida e de chegada, porto de salvação para os fugitivos da chamada " Grande Redada" (grande rusga, batida, prisão) que por ordem de Fernando VI rei de Espanha, e orquestrada pelo Marqués de La Ensenada, se iniciou a 30 de Julho de 1749 (2) conduzindo à prisão de mais de 9000 homens, mulheres e crianças de etnia cigana em todo o País (3).

                  

"Llegarón a la Sierra de Aracena, Melchor évito transitar por las cercanias de Jabugo y dió un rodeo para llegar a Encinasola y de allí a Barrancos, en aquel territorio de nadie entre España y Portugal del que había hablado el herrero con quién se habían topado durante su huída por el Andévalo. 

               

El gitano fué amistosamente recibido por el proprietario del estabelecimiento que proveía de tabaco a los contrabandistas españoles.

- Te dábamos por muerto, Galeote - le dijo Méndez tras un afectuoso saludo - .....

Se hospedarón en las instalaciones del vendedor de tabaco y al igual que en la venta de Gaucín, Melchor se ocupó de dejár bien claro a cuantos mochileros y contrabandistas aparecieron por el lugar que Caridad era suya y por lo tanto intocable. Los tres primeros dias, Melchor los pasó reunido con Méndez." (4)...

"Llevaba más de tres años contrabandeando en Barrancos..." (5)...

"La misma obstinación que habia mostrado a los pocos meses de su llegada a Barrancos, cuando en una salida por la sierra de Aracena se toparón con un grupo de gitanos que hablaba de los de Triana." (6)

"Lo de los traperos no funcionará - le advirtió Melchor -, nos pillarán; terminarán deteniéndonos.Vámonos lejos de aqui. A Barrancos.»" (7)

"Sí Melchor, Caridad, Milagros y fray Joaquin habian tardado cerca de una semana en recorrer el camino desde Barrancos a Triana, Martin Vega empleó tan solo tres dias en galopar desde la raya portugues hasta la ciudad de córdoba." (8) 

"Habían transcurrido dos dias desde la pelea.Melchor despertó en plena noche y acomodó su visión a la tenue iluminación de las velas del piso desocupado del callejón donde se habían instalado; contempló unos instantes a Ana y Milagros, al pié del jergón.

Luego pidió que lo llevarón a Barrancos... - Lo que tenga que suceder, sucederá - afirmó -,aqui en Barrancos...o camino de Barrancos - se adelantó a la segura pregunta de la gitana." (9)

«En Barrancos sanará.» (10)

- O livro é a visão ficcionada de acontecimentos históricos e de um século de preconceito e intolerância, e o autor transmite-nos vivências, personagens e perspectivas de uma Espanha absolutista e, porque não obscurantista e elitista a um tempo, e é neste tempo que se enquadra como dizia o Prof. da Universidade de Sevilha José Luis Goméz Urdañez , "un proyecto de disolución y extermínio cultural" referindo-se aos ciganos.


(1) - La Reina Descalza - pg. 97

(2) - Também conhecida como "Prisión General de Gitanos",           operação que só foi possível graças à Lei Pragmática de         1745, promulgada pelo seu antecessor Felipe V. 

(3) - Um dos episódios mais negros da História de Espanha,            onde se ordena a captura da totalidade dos ciganos de            Espanha, que foram destinados ás galés, ao trabalho               forçado nas minas, nas fábricas, e ás prisões.

(4) - La Reina descalza -  pgs. 400, 401.

(5) e (6) - "      "           "          - pg. 651.

(7) -         "      "           "   - pg. 680

(8) -         "      "           "   - pg. 712

(9) -         "      "           "   - pg. 734

(10) -       "      "           "   - pg. 740

Mensagens populares